Emergent Ecologies

Canoas às margens da Baía do Iguape

Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape
O Projeto Empoderamento e autonomia de mulheres extrativistas na Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape, desenvolvido pelo Instituto Behner Stiefel, em parceria com as comunidades da Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape, no recôncavo baiano e apoiado pela ONG Oceana, é uma continuidade de projeto realizado em 2023 com as mulheres marisqueiras e pescadoras artesanais do Sul da Bahia. A partir da percepção de que em área da Reserva Extrativista a pesca feminina mostra-se fortemente politizada e engajada na luta de direitos e resistência pelos modos de vida pesqueiros, garantia de seus territórios e permanência de novas gerações no território e na prática pesqueira, entende-se que dentro deste reduto sócio-cultural-ambiental (RESEX) as comunidades pesqueiras teriam proteção e garantias que as permitem se engajar em lutas além de suas sobrevivências diárias; refletindo sobre suas condições sociais, e transformando-as, mas entendendo seus valores culturais e suas práticas tradicionais. Assim, buscamos no segundo ano de pesquisa (2024/2025), desenvolver pesquisa etnográfica similar na Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape, a fim de aferir as benéfices da delimitação das reservas extrativistas para além de sua face de proteção ambiental, mas também de proteção de comunidades tradicionais, seus modos de vida e acesso a seus meios de sobrevivência.

























Metodologicamente, partimos da observação, convívio, entrevistas e relatos das mulheres marisqueiras e pescadoras da região, em suas individualidades e coletivos, sua história, atuação e seus processos de empoderamento político e social. Ao mesmo tempo, como evolução da pesquisa realizada em 2023, compreende-se que estas comunidades querem escrever sua própria história, para além de figurarem apenas como objetos de pesquisa. Neste sentido, estabelecemos a participação de colaboradoras de campo - mulheres marisqueiras ou filhas de marisqueiras das próprias comunidades, indicadas pelas lideranças locais - no desenvolvimento do trabalho de campo, coleta de informações, dados e relatos, e apresentação de resultados nas formas textuais, e audiovisuais. A partir de treinamento para o levantamento de dados e acompanhamento para o desenvolvimento das análises e produções, esta pesquisa é resultado do trabalho destas mulheres, apresentando suas próprias comunidades, questões, conflitos, relatos, técnicas e memórias, em suas diferentes regiões dentro do polígono da Reserva Extrativista Marinha da Baía do Iguape. A proposta de auxiliar as marisqueiras, para que elas mesmas apresentassem suas comunidades, seus saberes e seus modos de vida, estabeleceu-se como único caminho possível para a prática de uma antropologia contra colonial, empoderadora e libertadora. As pesquisadoras mostraram como a intimidade afetiva com os fazeres e saberes, e o sentimento de pertencimento, orgulho e amor por seus modos de vida são instrumentos metodológicos eficazes na captura e representação de sua sabedoria.

Canoas no Porto de Santiago do Iguape
Como resultados iniciais deste trabalho, podemos apontar alguns pontos:
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Reforça-se que territórios protegidos dentro dos termos da Reserva Extrativista garantem não só a proteção ambiental e o acesso à seus modos de vida/autonomia e garantia alimentar, como também lhes permitem atuação política, fortalecimento comunitário e valorização cultural. Destaca-se ainda a importância de benefícios governamentais como Bolsa Família e Bolsa Verde que permitem a essas famílias o suprimento de suas necessidades básicas, podendo engajar-se em questões políticas tais quais as lutas pela proteção de seus territórios e a manutenção de sua cultura.
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Neste sentido, renova-se também a ideia da pesca artesanal, para além de uma atividade de subsistência, mas um modo de vida tradicionalmente transmitido entre gerações e que alimenta vínculos ancestrais e afetivos através da prática e que compõem sua cultura e identidade. Tal vínculo é especialmente alimentado pelas mulheres, que mantêm-se responsáveis pela pesca continental de mariscos que compõem a base alimentar dessas famílias.
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Por outro lado, diferentemente de pesquisa anterior, devido à diversas diferenças sócio espaciais, a participação feminina na comercialização de produtos é grande na Resex da Baía do Iguape e compõem grande parte da economia local, especialmente através do cultivo de Ostra, para além da alimentação básica de subsistência fornecida pelo Sururu, chumbinho e outros mariscos, também pescados por estas mulheres. Destaca-se a preponderância feminina em postos de liderança e engajadas em processos políticos na região.
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Por fim, ilumina-se outra questão fundamental dessas unidades de conservação que trata dos efeitos nocivos dos empreendimentos que circundam tais territórios e que apesar de geograficamente localizarem-se fora de sua delimitação territorial, impactam diretamente solos, rios e rejeitos que acabam atingindo o território da Resex, sua fauna, flora e suas comunidades tradicionais que ali vivem. Controles ambientais integrados (nas diferentes instâncias governamentais), em que licenças e fiscalizações considerem o acúmulo de impactos dos diversos empreendimentos de forma sinérgica, são fundamentais para a garantia da preservação das unidades de proteção ambiental mantendo suas qualidades e objetivos.
Ao clicar nas imagens abaixo, é possível acessar as páginas dedicadas à RESEX Marinha da Baía do Iguape, à metodologia empregada e às quatro páginas correspondentes a cada território que integrou a pesquisa.
